Uma cidade com menos carros e mais bicicletas...
Uma cidade com mais museus e teatros e menos shopping centers...
Uma cidade menos competitiva e mais solidária...
Uma cidade que não trate a violência com mais violência, mas com "armas" como educação, saúde e cultura....
Uma cidade que não criminalize o trabalhador informal, mas o trate como cidadão...
19/05/2013
quinta-feira, 19 de maio de 2016
quarta-feira, 18 de maio de 2016
Cidade dinâmica: da indústria ao condomínio residencial
A cidade é dinâmica. Uma amostra disso é a frenética mudança da paisagem. A todo tempo presenciamos abertura de uma nova via, a demolição de uma velha casa, a construção de um edifício. Umas mudanças são rápidas, como a construção de um condomínio por uma grande incorporadora, outras são lentas, como uma casa auto-construída nos bairros populares que pode demorar anos e anos.
A constante reconstrução do espaço urbano é facilmente observada na paisagem, embora muitas vezes não demos conta disso. No entanto, cada mudança na cidade nos revela significados que vão além da paisagem. Além das formas, é revelado o conteúdo atual da cidade.
O Serra é um bom lugar para verificarmos isso. Como todos sabem, a cidade vive há alguns anos um intenso crescimento econômico e imobiliário. “Pipocam” para todos os lados, novos condomínios residenciais e centros comerciais. Muitos empreendimentos são erguidos em vazios urbanos e outros em lugar de armazéns e antigas fábricas.
Um caso notório dessa mudança de conteúdo da cidade da Serra é a construção de um novo condomínio no lugar da antiga Atlantic Venner do Brasil. Essa indústria surgiu no final dos anos 1960 e por várias décadas foi uma das principais fábricas de derivados de madeira do Brasil. Em seu auge, chegou a ter a quase 5 mil habitantes e estimulou diretamente a criação e ocupação de bairros vizinhos a planta industrial. A empresa faliu no final da década de 1990. Ela representou a dinâmica clássica da cidade industrial, inclusive contava com uma vila operária, o atual bairro de Chico City.
Há alguns meses toda sua estrutura vem sendo desmontada. Seus enormes galpões foram abaixo. O último “símbolo” a ir abaixo foi uma das extensas paredes de um dos maiores galpões da empresa. Em seu lugar está sendo erguido a nova sede uma faculdade e, na maior parte, será construído mais um grande condomínio pela MRV Engenharia no município.
Figura 1 – Trator destruindo o que resta da Atlântic Venner.
A grandiosidade da fábrica cederá espaço para a grandiosidade do condomínio fechado. Se antes era a fábrica que explorava a força de trabalho de milhares de pessoas, agora emerge o proletário da construção civil. Se antes, a extensa periferia revelava a metrópole industrial, hoje os enclaves mostram a metrópole fragmentada, resultado de novas formas de se ganhar dinheiro com a cidade, como é o caso do mercado imobiliário que se expande espacialmente na Grande Vitória. Antes, como hoje, a cidade se mostra excludente, porém com novos contornos.
Thalismar Gonçalves - Dezembro de 2011
Geógrafo
IFES
Link: http://cidadecomodireito.blogspot.com.br/2011/12/cidade-dinamica-da-industria-ao.html
Mobilidade urbana: uma questão de engenharia ou uma questão política?
Os famigerados congestionamentos são um dos principais problemas das grandes cidades brasileiras, dentre tantos que temos. É comum os telejornais da manhã iniciarem, e às vezes terminarem, a partir de um panorama do trânsito por diferentes pontos da cidade. É como se a mídia tivesse o dever de informar ao cidadão “motorizado” os pontos “estrangulados” e onde os carros fluem com tranquilidade.
Quando se questionam os motivos dos congestionamentos, a resposta é simples (simplista): ausência de planejamento por parte do poder público. A prefeitura, governo estadual ou federal não investiram em infraestrutura suficiente para a demanda crescente de automóveis. Nesse raciocínio, o que fazer? Ora, investir em infraestrutura e recompensar o tempo perdido a partir de ampliação de vias, construção de pontes, viadutos etc.
É a solução que perpassa pelo imaginário popular e difundido/ reforçado pela grande mídia. Nessa perspectiva, a locomoção pela cidade por meio de automóveis individuais aparece como algo natural. Como é natural a ideia de felicidade estar relacionada necessariamente a aquisição de um novo modelo de carro. Se a cidade não fosse uma construção coletiva e aquisição de um automóvel fosse uma mera questão subjetiva, encerraria a discussão por aqui! Porém, não é bem assim...
Quando se parte da ideia de que a mobilidade urbana é uma questão de engenharia, opta-se (politicamente) pela continuidade da cidade dos carros. A indústria automobilística e as grandes empreiteiras agradecem. A engenharia urbana, portanto, ao mesmo tempo em que garante a viabilidade da indústria de carros individuais, ampliando vias, ela em si é um grande negócio (e sempre são as mesmas empresas que prestam serviço para as prefeituras, será por quê?).
Nesse contexto, locomover-se pela cidade como pedestre, ciclista ou usuário de transporte público é um grande sacrifício. E o mais perverso é que a maioria da população capixaba, brasileira, utiliza de tais meios para ir ao trabalho, à escola, à casa de parentes ou amigos etc. Por isso, a questão da mobilidade urbana é, antes de tudo, política. As soluções propostas pelo poder público, de um modo geral, embora venham carregadas de um discurso do “bem comum”, elas beneficiam uma parcela da população e determinados setores privados, como os supracitados.
Thalismar Gonçalves - março de 2012
Geógrafo
AGB-Vitória
IFES
Link: http://cidadecomodireito.blogspot.com.br/2012/03/mobilidade-urbana-uma-questao-de.html
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Conflitos na e pela cidade: contribuições para o ensino de geografia
São os diversos modos de apropriação do espaço que vão pressupor as diferenciações de uso do solo e a competição que será criada pelos usos, e no interior do mesmo uso. Como os interesses e as necessidades dos indivíduos são contraditórios, a ocupação do espaço não se fará sem contradição e, portanto sem luta. (Carlos, 2001, p.42).
O geógrafo Roberto Lobato Correa (1989) afirma que a produção do espaço
urbano se realiza a partir das ações dos seguintes agentes (ou atores)
sociais: 1) os proprietários dos meios de produção, sobretudo as grandes
empresas; 2) os proprietários fundiários; 3) os promotores
imobiliários; 4) o Estado; 5) os grupos sociais excluídos. Entendemos
que esse último agente se configura a partir de movimentos espontâneos
ou organizados na luta por moradia, transporte urbano, trabalho, lazer,
etc. Cada um desses agentes, ou grupos sociais, se apropria do espaço
urbano a partir de seus interesses, que ora podem ser convergentes, ora
divergentes em relação a outros agentes sociais.
As empresas atuam sobre a cidade com intuito principal de obterem ganhos
privados (lucros). Nesse sentido, a orientação de suas ações tem como
parâmetro a busca de menores custos possíveis para sua atividade
econômica. As estratégias para atingirem esses objetivos podem variar
entre empresas e entre diferentes ramos de atividades. Mas, de um modo
geral, podemos afirmar que as empresas industriais ou comerciais buscam
terrenos, de diferentes tamanhos, e baratos, com infraestrutura urbana
que seja condizente com suas atividades.
Os proprietários fundiários são, digamos assim, os “donos” da cidade. A
terra urbana é uma condição básica para qualquer atividade econômica ou
construção de infraestrutura no espaço urbano. Tendo consciência desse
fato, os proprietários fundiários buscam obter os maiores ganhos
possíveis (renda da terra) a partir da valorização de suas terras. Para
tanto, lançam mão de estratégias como a especulação fundiária (retenção
de áreas vazias no interior da mancha urbana), pressão sobre o poder
público construir infraestrutura como vias rodoviárias ou equipamentos
públicos nas proximidades de seus terrenos, etc.
Os promotores imobiliários produzem uma parcela considerável da cidade.
Aqui estamos falando dos incorporadores e loteadores. Ambos buscam obter
ganhos através da venda do produto imobiliário, que pode ser uma casa,
um apartamento ou um lote. Os ganhos dos promotores imobiliários estão
relacionados diretamente ao preço final de venda do produto imobiliário.
Por isso, lançam estratégias como empreendimentos em áreas com
infraestrutura urbana, próximas de amenidades naturais (praias, área
verde) ou produzem habitações com inovações como os condomínios fechados
munidos de área de lazer interna e outros serviços. Em função de tais
estratégias, o mercado imobiliário é caracteristicamente excludente, não
sendo acessível para parcela significativa da população de países como o
Brasil.
O Estado é, sem dúvida, um agente social privilegiado na produção do
espaço urbano. Sua atuação é complexa e variável ao longo do tempo e do
espaço, refletindo as contradições e as correlações de força no interior
da sociedade, uma vez que o Estado não é neutro. A atuação do poder
público sobre o espaço urbano é dupla. De um lado, regulamenta o uso e a
ocupação do solo urbano pelos agentes privados através da legislação,
além de mediar as tensões e os conflitos que tem a cidade como palco e
objeto. De outro, o poder público produz o espaço diretamente por meio
da construção de vias, equipamentos públicos, habitações populares, etc.
A forma como o Estado atua sobre a cidade (o que se construir e onde,
por exemplo) reflete diretamente na orientação das ações dos outros
agentes privados.
Os grupos sociais excluídos representam a parcela da sociedade que ao
longo do processo de produção da cidade, seja pelos agentes privados,
seja pelo Estado, tem uma série de direitos negados: moradia, transporte
público, lazer, trabalho, cultura etc. Nesse contexto, esses movimentos
espontâneos ou organizados lutam por uma cidade menos desigual e mais
justa. Uma das expressões concretas da ação dos grupos sociais excluídos
são as ocupações e favelas, produzidas pela população com menos
rendimentos e subempregados que não têm como pagar aluguel ou comprar
imóveis no mercado imobiliário formal. Nessa lógica de luta por
direitos, podemos acrescentar protestos ligados a melhorias ou mudanças
no transporte público, desde os realizados em bairros populares às
recentes manifestações dos estudantes ligados ao movimento Passe Livre.
Outros reivindicam o direito ao trabalho nas cidades como é o caso dos
ambulantes e guardadores de carros (flanelinhas). De um modo geral, os
grupos sociais excluídos entram em confronto direto com o poder público,
como assistimos na TV quase que diariamente.
Portanto, a identificação desses agentes sociais que produzem o espaço
urbano mostra-se como uma possibilidade de entendermos melhor os
conflitos urbanos, e o que, de fato, está em jogo. O Observatório dos
Conflitos Urbanos (UFRJ/IPPUR/CMRJ) define conflito urbano:
(...) todo e qualquer confronto ou litígio relativo à infraestrutura, serviços ou condições de vida urbanas, que envolva pelo menos dois atores coletivos e/ou institucionais (inclusive o Estado) e se manifeste no espaço público (vias públicas, meios de comunicação de massa, justiça, representações frente a órgãos públicos, etc). Manifestação coletiva que tenha a cidade como espaço e objeto de suas reivindicações. (Observatório dos Conflitos Urbanos)
Para aprofundarmos um pouco mais as questões, é preciso, ainda que
resumidamente, entender um pouco mais da natureza do processo de
urbanização atual, em especial no Brasil. A consolidação da
industrialização a partir das décadas de 1960 e 1970 foi, sem dúvida, um
marco para a urbanização brasileira. Esse processo social e econômico
promoveu a integração do território e a formação de uma rede urbana
nacional hierárquica, tendo como epicentro as grandes metrópoles. A
população brasileira se urbanizou, hoje mais de 80% dos brasileiros
vivem nas cidades, sobretudo nas grandes cidades e metrópoles.
A rede urbana e as cidades passam ser organizadas segundo os interesses
da produção industrial, em seus vários momentos como a circulação e o
consumo. Ao mesmo tempo, importante parcela da população que chegava aos
centros urbanos não conseguia empregos ou se inseria de forma precária
no mercado de trabalho . Com o crescimento demográfico e a concentração
econômica nas cidades, os promotores imobiliários e os proprietários
fundiários encontram condições objetivas de potencializarem seus ganhos,
a própria produção imobiliária passa a ser um ramo privilegiado de
investimentos do capital.
Nesse contexto, de ampliação do uso econômico da cidade, intensifica o
processo de segregação espacial e forma-se “[...] duas cidades. Uma de
opulência, bem-estar e prazer, e outra de pobreza e desesperança. [...]”
(CORRÊA, 2005, p. 177). A lógica como se deu a urbanização no Brasil
foi e é excludente e desigual, e a segregação espacial não é a única
expressão concreta. A luta diária da população usuária do transporte
público, os freqüentes congestionamentos, a dificuldade de se locomover
na cidade de bicicleta ou mesmo a pé, o aumento do comércio informal
(incluindo o trafico de drogas) são outros exemplos concretos da
urbanização brasileira.
Como pano de fundo dos conflitos que são travados no espaço urbano, está
o embate entre dois modelos de cidades: a cidade como negócio X a
cidade como direito. Na primeira, a cidade é entendida, antes de mais
nada, como forma privilegiada de obtenção de ganhos privados. Na
segunda, a cidade é entendida como obra humana e coletiva e, por isso,
deve servir prioritariamente aos interesses da coletividade, a cidade é
vista como direito de todos e todas.
Por Thalismar Gonçalves
http://blogdojosimarnunes.blogspot.com.br/2015/12/conflitos-na-e-pela-cidade.html
Referências Bibliográficas:
CARLOS, Ana Fani A. A Cidade. 6ª Edição. São Paulo: Editora Contexto, 2001.CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Editora Ática S.A., 1989. ¬
______. Trajetórias geográficas. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
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